Cada vez mais
se fala da aposta na formação a nível nacional, na política de redução de
custos e no "futebol sustentável". A verdade é que, para além dos
talentos, é necessário que os quadros competitivos, os escalões de formação e o
treinador de formação sejam adequados. E adequados é tudo o que estes três
componentes da formação de futebolistas não são, em Portugal.
No que toca aos escalões de formação, apesar de difícil de resolver, está claro que há problemas a nível da maturação biológica dos atletas. Basta analisarmos o Barcelona. Não será por acaso que 75% dos jogadores desta cantera nasceram nos primeiros seis meses de cada ano. As diferenças ao nível da maturação são tão elevadas e variam tanto em curtos espaços de tempo que, fazem com que os mais desenvolvidos sejam os escolhidos. Se em meses, as diferenças são tão notórias, imaginem agora em dois anos, normalmente o tempo que cada escalão abrange.
A solução para
este problema é bem complexa! Poder-se-ia optar por uma avaliação da maturação
dos atletas, e classifica-los em escalões quanto a isso mas o tempo e os custos
seriam elevados. Poder-se-ia reduzir a abrangência de cada escalão etário,
talvez a melhor opção, o que reduziria as diferenças de maturação, que, é o que
muitos clubes vão fazendo ao usarem equipas por ano de nascimento em vez do
escalão (Equipas de atletas de 2001, 2002, etc). Porém, continua a ficar claro
que, ao nível dos escalões de formação ainda há muito trabalho a ser feito.
Ao nível dos
quadros competitivos, os problemas são enormes. Há dias, numa acção de formação
com o coordenador de uma das melhores escolas de formação a nível nacional,
este foi o tema principal! A qualidade dos jogos que encontram, a intensidade
que os seus atletas precisam de por em cada partida, os resultados avultados
que se veem todas as semanas e a diferença com o nível estrangeiro ("Cá somos os donos do galinehiro, lá somos frangos depenados"). Ficou claro
que a competição ao nível interno era mínima, possuíam dois, no máximo três
equipas por série que lhes tornassem o jogo num confronto, numa verdadeira
competição, coisa que não assistiam durante o resto da época. Atualmente, este
é o cenário que se encontra em Portugal para as grandes equipas formadoras.
Seis jogos por época onde os seus jogadores podem ser realmente testados.
Por
um lado, facilmente poderíamos arranjar soluções ao nível das federações
distritais para resolver este problema. Divisões (primeira, segunda, etc) em
vez de séries poderia, facilmente, ser uma solução. A divisão atual (em
divisões e posteriormente em séries) ainda traz este tipo de problemas. Os
melhores na 1ª divisão, proporcionando mais competição para todos! Os
excelentes debatiam-se com os excelentes, os bons com os bons, os medianos com
os medianos. Melhor evolução para todos, porque competição entre
expoentes qualitativos e acabar um jogo com 10-0 em nada é benéfico para
qualquer uma
das equipas!
Por
outro lado, poderíamos apontar algumas “culpas” aos maiores clubes formadores.
É óbvio que os grandes contam com mais de 100 jogadores por escalão (equipa A,
equipa B, equipas satélite,…), o que, acaba por retirar o talento a outros
clubes e torna impossível qualquer equipa que não possua um nome marcado no
futebol português competir a esse nível.
Por
último, e não menos inquietante, a formação dos treinadores dos escalões de
formação! Estes são, na minha opinião, os escalões onde os treinadores deveriam
possuir maior formação, por estarem a ensinar a modalidade, por serem figuras
para as crianças, pela forma como se vê muitos abordarem as crianças. E se há
coisa que a maioria dos treinadores destes escalões não são é formados! Atenção,
não digo que, são “menores” por não o serem, mas a grande maioria não faz ideia
de como lidar com os jovens atletas nestas idades! O pai deste, o atleta que
fez história no clube, o Tio Tone que acha que percebe de futebol e tudo o que
sabe é que o objetivo principal é marcar golo, ainda vão sendo estes os
treinadores escolhidos na grande parte dos clubes!
Em
suma, antes de esperarmos resultados esplendorosos da nossa formação, temos de
fixar a quantidade de erros, de problemas que ainda se assiste no nosso futebol
de formação! O futebol de formação não começa na equipa B das equipas
principais, começa bem mais cedo, nos miúdos de 10 anos do clube da terra!
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